Conheci o Arcade Fire por um acaso. Foi em 2005, no extinto Tim Festival, quando eles vieram ao Brasil pela primeira vez. Eu estava ali para assistir o Wilco e tinha ingresso para o show extra do Strokes, mas foi a banda canadense, que acabara de lançar seu primeiro álbum “Funeral”, que arrebatou o meu coração.
A maioria das pessoas que estavam ali conhecia pouca coisa sobre o som deles. E foi impressionante como a presença do palco e a versatilidade dos componentes fizeram todo o público vibrar. Saíram do palco consagrados. E, a partir daquele momento, tinha me tornado fã da banda.
Desde então, tenho acompanhado os trabalhos posteriores e o amadurecimento como músicos, que a cada lançamento, conseguem se superar. Esse amadurecimento foi tão notório que eles logo foram convidados para abrir os shows das turnês de David Bowie e U2. E as belas canções de “Neon Bible” (2007) e The Suburbs (2010), transitando entre o pop, o barroco e o gótico, nunca saíram de minha seleção imaginária.
Nem precisa dizer que “Reflektor“, lançado ano passado era aguardadíssimo. Produzido por James Murphy, ex-LCD Soundsystem, o álbum surpreendeu, mais uma vez os fãs e a crítica especializada com sua mistura de tambores haitianos, samba, sons eletrônicos e guitarras experimentais.
Para a apresentação no festival Lollapalooza, os fãs tinham uma verdadeira escolha de Sofia: Arcade Fire ou New Order? Ambos fariam show no mesmo horário, em palcos diferentes… optei pela primeira opção, apesar de ser superfã da banda de Manchester.
Mesmo com o coração partido, curti o show como se fosse o último. Sabe aqueles momentos sublimes em que público e banda comungam? Pois é. O show inteiro do Arcade Fire foi assim. Uma interação assombrosa como poucos sabem fazer. Lembrou, tanto pelos elementos tecnológicos, quanto aos visuais, o belo show que o Radiohead fez no Brasil em 2009.
A abertura, com imagens no telão do filme “Orfeu Negro“, de 1959, foi o prenúncio de que o hit “Reflektor” estaria por vir e colocar todo mundo pra pular. Apesar de não ser uma canção para se tocar em rádios, esta música é quase um anti-hit por sua estranheza, também presente em quase todo o disco, que é contemporêneo e ao mesmo tempo vintage, flertando com Prince, The Cure, Michael Jackson, Bjork, teatro e carnaval.
É impressionante como a banda, que se entrega 100% nos palcos, se tornou ainda mais versátil desde 2005. O Arcade Fire não tem uma peça principal, pois todos se destacam, dividindo violinos, duas baterias, teclados, piano, acordeão e percussão tocados com tesão, que alternam em momentos de contemplação, drama e emoção. Não há como ficar arrepiado quando Win Butler vai até o piano e, anuncia em português “essa música é sobre saudade”, atacando com “The suburbs” e fazendo todo mundo chorar. “Ready to start” é acompanhada em uníssono ( e um momento das lágrimas caírem mais uma vez). “Neighborhood #2 (Laika)” que não era tocada em shows há alguns anos, voltou ao repertório após uma campanha na internet, criada por brasileiros. A banda ainda citou na voz de Régine Chassagner, mulher de Butler, “O morro não tem vez”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, além de “Nine out of ten”, de Caetano Veloso, do álbum “Transa” (1972) e “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso. Foi emoção à flor da pele o tempo inteiro.
A festa coletiva transbordou em “Afterlife”, na essencial “It´s never over (Hey Orpheus)” e na nightclubber “Here comes the night time”, que se transfigura em um grande baile de carnaval, com direito a papel picado e termina com a épica “Wake up” e o lindo refrão que ecoou por todo o autódromo de Interlagos.
Na despedida, Win ainda fez uma promessa: caso o Brasil ganhe a Copa do Mundo, o Arcade fará o show seguinte com o uniforme da seleção. Pelo entusiasmo, acho que todos estão torcendo para que o Brasil leve a taça.
Na volta para casa, com a multidão reverberando o “ôôôôô” do refrão de “Wake up”, aquela imagem de banda indie que o Arcade Fire ficou para trás, num passado distante. Atualmente são um super grupo épico, que faz shows espetaculares para ficar na história e na memória. Um grupo que canta, dança, sapateia, emociona e reflete.
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