No último fim de semana, estive em um evento de família e, por causa dele, me peguei refletindo o restinho das últimas horas sobre como nos mostramos e como somos vistos nas redes sociais. Na verdade, não era um eveeeeento, mas um churrasquinho de fundo de quintal, regado a conversa fiada, gargalhadas, pagodes dos anos 90 e aquelas brincadeiras bobas com meus sobrinhos, que passavam longe dos atuais jogos eletrônicos. Para coroar o dia quente, no fim da tarde, caiu uma tempestade na zona oeste do Rio e aproveitamos para tomar banho de chuva e mergulharmos nas águas turvas da piscina de plástico que estava há dias sem ser lavada. Diante dos avisos para o risco de adquirirmos uma hepatite ou dermatite, meu pensamento se teletransportou para a minha infância, quando eu brincava descalço nas ruas, pegava girinos naquelas valas de periferia e dizia que eram peixinhos e voltava para casa no fim da tarde com os pés e joelhos russos de lama e poeira.
Quem me vê nas redes sociais, como o “blogueiro super produzido” pode ter se espantado com os stories propositais que publiquei na mesma rede em que eu me mostro cheio de glamour.
É indiscutível o importante papel que as redes sociais desempenham hoje nos rumos de nossa vida política, privada e social. São indiscutíveis também os avanços que elas introduziram nas comunicações, favorecendo o reencontro e a aproximação entre as pessoas e, se forem redes profissionais, facilitando a visibilidade e a circulação de pessoas e produtos no mercado de trabalho.
As redes sociais provocam mudanças de fundo no modo como as nossas relações ocorrem, intervindo significativamente no nosso comportamento social e político. Ao participar das redes sociais acreditamos ter muitos amigos à nossa volta, sermos populares, estarmos ligados a todos os acontecimentos e participando efetivamente de tudo.
Isso, em parte, é uma verdade, mas também uma ilusão, porque essas conexões são, por vezes, superficiais e instáveis. Os contatos se formam e se desfazem com imensa rapidez. Os vínculos estabelecidos são voláteis e atrelados a interesses momentâneos. Não é raro vermos em noticiários, suicídio de pessoas que viviam uma vida de luxo e glamour, sem um aparente motivo ou histórico que justificasse tal atitude.
Na nossa atualidade, o isolamento tem um perfil diferente, porque é mais voltado para a intensificação do individualismo, cujos interesses afastam-se cada vez mais das questões sociais. As recentes manifestações populares, embora devam sua ocorrência às redes sociais, mantêm o caráter do individualismo e do isolamento, pois os participantes não criam vínculos reais entre si e, a meu ver, prezam (e muito!) pelos seus próprios interesses pessoais, alimentando o egoísmo e a vaidade humana.
Devemos, portanto, tentar nos equilibrar na velha e nova guarda, não tão metódicos como os mais experientes, mas também não tão precipitados como os mais jovens, onde tudo que se almeja precisa ser para ontem, sem um caminhar a ser trilhado. Esse comportamento gera impaciência e frustração, e tende a nos deixar cada vez menos aptos para nos aprofundar nas reais relações humanas. Ter consciência de que o filtro de uma foto ou o Photoshop que nos aperfeiçoa não torna aquela imagem real, é o início de um caminho para que não nos frustremos em busca de uma perfeição, que por vezes, é inexistente.
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